Dakar - Paso San Francisco

Dakar - Paso San Francisco

terça-feira, 8 de janeiro de 2008






Finalmente volto a escrever, agora estando em Arica. Nao escrevi antes porque em San Pedro de Atacama, dias 5 e 6, à noite, na coincidencia dos horários que se tem para acessar a internet depois de um dia de viagem ou turismo, faltou luz! o que é quase normal. Vamos lá.
Em Susques(dia 5) parti às 10:30 horas, um tanto tarde porque a turma que conheci e eu aguardávamos a definicao do tempo. Susques é o último posto de abastecimento, depois somente a 280 km.Levei combustivel extra para emergencia. Infelizmente o casal - Heinz e Bete - que fazia parte dos amigos de Curitiba que desde Salta onde nos encontramos viajamos juntos, tiverem que desistir por problemas de saúde. Boa sorte, e um prazer te-los conhecidos. O tempo estava nublado, mas arrisquei nao colocar roupa de chuva. Muitos quilometros depois tive que parar e colocar roupa de chuva, em pleno deserto, embora nao fosse muito intensa. Quem diria! A estrada para Paso de Jama (fronteira da Argentina e Chile) é muito boa, repleta de paisagens diferentes entre montanhas desérticas e montanhas com o cume em neve, ou planícies(na verdade é altiplano) extensas, com pouco verde, e algumas vicunhas e alpacas, animais típicos da regiao. Chegando à aduana argentina é quase um caos, exigindo muita paciência pela burocracia. Aconselho que viagem com passaporte, facilitando um pouco esses trâmites. Levei mais ou menos uma hora. Durante a espera na aduana ficamos sabendo que de madrugada havia ocorrido um terremoto em Sao Pedro de Atacama-CH, e que de manha(dia5) houve precipitacao de neve na cordilheira. Se as estradas argentinas sao muito boas, as chilenas sao excepcionais! Nesse trecho até San Pedro de Atacama sao 280km de sobe e desce na maior parte, chegando o máximo de 4.820 metros ao nível do mar, onde à noite chega a 5/8 graus negativos nesta época, mas de dia(quando passamos) é um calor de 6/9 positivos! Quando parti de Susques já estava preparado para o frio, usando a roupa térmica. Foi bem tranquilo. Quando se está subindo a cordilheira muitas motos carburadas sofrem pela falta de ar, chegando a andar no máximo a 40 km/hora. Essas motos devem mudar o esguicho e regular a mistura de ar/combustível, e depois que chegarem em San Pedro de Atacama inverter tudo novamente. A minha moto tem injecao eletronica, portanto nao teve nenhum problema, pelo contrario, fiz a melhor média de consumo(22 km/l) justamente pelo efeito do ar rarefeito. Cheguei com a turma de Curitiba (agora somente o Mazzo com sua moto, sua esposa Lilian, e o casal Ray e Eliane, estes três viajando de carro), às 15:30 horas. O amigo Luiz Paulo seguiu com a outra turma de brasileiros de Crissiumal, mas nos encontramos no caminho e ficamos depois também no mesmo hotel em San Pedro. Aliás, o que nao falta por aqui sao brasileiros, a grande maioria. Mais parece terra de brasileiros, com alguns turistas estrangeiros...
San Pedro de Atacama é uma cidade pequena num oasis, em pleno deserto. Esta cidade mantém sua originalidade, ou seja, casas de barro(hoteis e hostals também), um tanto desordenadas, e tudo em chao de terra. Há muita , mas muita poeira, ventos, e uma certa sujeira como se tudo estivesse abandonado, tanto que cachorros disputam espaco na rua com os humanos. As casas sao todas baixas; modernidade, nem pensar! Acho que aqui é o melhor lugar para ser prefeito de cidade, pois quanto menos ele faz, tanto melhor para a cidade... Há gente de toda parte do mundo. Quando estava descendo a cordilheira, quase chegando, um casal de ciclistas(muito comum por aqui) estava subindo em direcao a Salta-ARG, ele espanhol e ela alema, o que certamente passarao a noite na cordilheira, abaixo de zero. Quando se comeca a sair da cordilheira se está a 4.500 metros de altitude, e em mais ou menos 30 quilometros se desce a 2.500 metros, o que os ouvidos sentem a mudanca de pressao. Nesse dia em San Pedro (5/1) choveu(alguns pingos, óbvio), o que também é raro, pois somente chovem 4 dias por ano, e num total de 18 mm. O calor é sufocante, tanto que essas gotas de chuva já caem secas... Fui dormir cedo, pois no dia(madrugada) seguinte iria visitar os Geisers del Tatio. Como já disse, nao havia internet até aquele momento.
Dia 06/01, levantei às 03:30, porque a excursao passaria no hotel às 04:00. Passou às 04:20 horas. Viajamos, portanto, de madrugada, levando cerca de 3 horas para fazer 98 km até os Geisers del Tatio. Os geisers sao algo fenomenal! O espetáculo comeca próximo das 7:30, com os vapores já saindo quando chegamos. Depois comeca a sair água muito quente por esses geisers, atingindo em alguns momentos, em um ou outro geiser (buraco na terra), a altura de 2 a 3 metros. Essa água queima mesmo, de tao quente. Pensei com saudades de um chimarrao! Às 08:00 horas, quando comeca a dimunir a intensidade dos geisers, é servido pela agencia de excursao um desayuno(cafe), com sandwiche, café, leite, chá e ovo, este cozido na hora no próprio geiser. Mas ainda tem mais nesse local: o banho na piscina natural. É claro que nao pude deixar essa pra trás. Tomei um banho (ninguem pode ficar mais de 30 minutos na água) quente nessa piscina, água com temperatura de 35ºC, e fora da água a zero grau (na verdade, próximo de 5 graus)! Ah.... levei toalha pra me secar, e nao tem local para trocar de roupas... À tarde fomos visitar o Vale de La Luna, lugar que mais se aproxima do solo lunar, e onde a Nasa fez suas experiências lunares. É um local grandioso e explendoroso, onde o gran finale da visita é aguardar o pôr do sol. Para tanto, devemos subir por uma trilha o cume de uma elevacao para uma melhor visao. Deve-se ter extremo cuidado porque o espaco do cume nao passa de 1 metro e meio, e as laterais sao um precipício perigoso. É realmente muito bonito esse pôr do sol e essa regiao `lunar`. Antes de chegarmos ao Vale de La luna, passamos pelo Vale da Morte, uma cadeias de labirintos e um vento muito forte entre eles, mas com belas paisagens dessas pequenas montanhas(acho que formam na verdade um canyon). Passando pelo Vale da Morte, fomos até os Canyon de Sal, local de uma curiosidade impar, pois sao rochas cortados pelo tempo, e de sal! Essa formacao se altera de vez em quando, pois caem alguns blocos, como iniciam outros mais, e quando se está ao lado deles, pode-se ouvir o som dos movimentos internos de compressao e dilatacao, provocados pelo frio da noite, e pelo calor do sol de dia. É constante esse movimento. Muito legal. Chegamos às 21:00 horas no retorno. muito cansados, porque parte do programa é feito a pé. Jantei à luz do lampiao... como disse, faltou luz! Resolvi ir à pé para o hotel, muito distante do centro. Como nao tem luz na cidade(literalmente nao há luz pública) fui caminhando à esmo, sem ter a absoluta certeza de onde pisava, e sequer se estava na direcao certa, pois se de dia tudo é parecido, imagina à noite, numa escuridao total! Mas cheguei. Ufa!
Dia 07/01, nao tao cedo quanto esperava, parti junto com os amigos curitibanos para Arica-CH. A demora maior foi para achar o posto de combustível na cidade de San Pedro Atacama. Muito difícil, fica um tanto afastado e escondido. Abastecida a moto, zarpamos às 10:30, numa temperatura agradável até Calama, distante 100 km, onde abasteci novamente. Passa-se por Chuquicamata, local onde está a maior mina de cobre a céu aberto do mundo. Apenas tirei foto da entrada, pois deve-se marcar hora para visita, e perde-se toda uma tarde, tempo que nao disponho. A partir de Chuquicamata o asfalto nao está bom, é irregular e com muito buraco(panelas de vários tamanhos), estendendo-se até Quillagua, povoado pequeno localizado num osasis em pleno deserto(a atracao turistica é um balneário...). Acho importante observar que nesse local, logo passando Quillagua, há um posto de aduana chilena, onde devemos apresentar a documentacao da moto quando se ingressou no Chile. Portanto, viajantes, nao percam esse papel! Resolvemos passar em Maria Elena para abastecer e almocar, antes de chegarmos em Quillagua, para isso tivemos que nos deslocar fora do itinerário por 15 km em direcao sul, e retornar. O almoco foi simples mas muito gostoso, mas quando fomos abastecer, surpresa: fazia 5 minutos que cortaram a luz da cidade(povoado) por causa de um incêndio. Como nao tinha previsao para voltar a luz, resolvemos arriscar e ir assim mesmo até o próximo posto de combustível:Oficina Victoria. distante 270 km de Calama Como gastamos tempo e combustível para ir a Maria Elena, nao deu outra: já próximo a Oficina Victoria faltou gasolina na moto do amigo Mazzo, e daí retiramos um dos meus galoes extras de gasolina e colocamos na moto. Eu cheguei no posto de Oficina Victoria com apenas 600 ml! Fizemos um lanche e quando estávamos para partir chegou um grupo de 3 motociclistas chilenos, de Arica, do grupo Ovelhas Negras, os quais atenciosamente nos deram algumas informacoes e colocaram-se à disposicao em Arica para qualquer problema. Foi muito útil ao Mazzo, porque precisou trocar o pneu traseiro da moto em Arica, e houve a coincidência de um motociclista que encontramos num posto nos levar até o mecânico desse grupo. Voltando ao caminho, nesse trecho até Oficina Victória tivemos que pegar 6 desvios por estrada de terra, poeira(muita poeira) e cascalhos, em face a reforma do asfalto. Há um local entre Chuquicamata e Quillagua que além do asfalto ruim, de repente simplesmente termina o asfalto, e por uns 200 metros é cascalho e terra... muito cuidado para quem viajar nas próximas semanas ou mês. Depois disso melhora o asfalto, mas de vez em quando aparece alguma panela(buraco). Depois de Oficina Victoria paramos para abastecer em Pozo Almonte, lugar aprazível, pequeno, com razoável estrutura, muito organizada e limpa essa cidade, distante apenas 57 km de Of. Victoria. Mas a essa altura qualquer posto que tivesse no caminho iriamos parar para abastecer. Por causa desses atrasos que nao contavamos, obras, aduana extra, falta de combustivel, tivemos que viajar à noite, coisa que costumo nao fazer. Mas dessa vez nao há arrependimento: simplesmente foi fantástico andar de moto pelo asfalto (agora sim, a partir de Oficina Victoria, muito bom), onde pude desfrutar por quase uma hora de deslumbrante pôr do sol no deserto, formando nuvens multicoloridas. Nesse momento nao se percebe o tempo e nem a distância percorrida. Terminado esse espetáculo, inicia outro: a imensidao da escuridao, apenas podendo-se observar as luzes dos farois dos carros em sentido contrário, ou lanternas traseiras dos que iam à frente, o asfalto bem sinalizado, e... as estrelas, que no deserto tem um brilho mais intenso e limpo. Antes de chegar em Arica, há um sobe e desce na serra, onde ora se está a 1.200 metros ao nível do mar, depois chega a 100 metros, retorna a mais de mil e desce até Arica, esta uma cidade litorânea e portuária. Chegamos à meia-noite, e fomos direto a um hotel onde a turma de Curitiba tinha reserva. Entrei no embalo. A travessia do deserto me surpeendeu positivamente, pois achei que fosse mais difícil, apesar desses percalcos. De Calama a Arica sao aproximadamente 720 km. Os famosos ventos de tantos relatos lidos nao me pareceram preocupantes, e nao foram por todo o caminho. Sei que os ventos mais fortes sao pelo trecho do litoral, o que vou conferir na volta. Outra observacao positiva é que há razoável movimento de veículos em toda a extensao percorrida, o que afasta aquela sensacao de que estaríamos sozinhos no meio de um deserto. No sul da Argentina, no deserto de Neuquem, por exemplo, lá sim há solidao, ou ao centro no deserto de Eicon, também na Argentina.
Hoje, dia 08/01, resolvi ficar em Arica para trocar o óleo da moto, e descansar da pilotagem, pois amanha vamos ingressar no Peru. O Mazzo foi trocar o pneu e o óleo tambem, e gracas aos nossos GPS (igual por sinal) nao nos perdemos nessa cidade, um tanto grande(capital da provincia), mas sem grandes atrativos. Há muitas casas no estilo ´casebre´, mas concluo que pelo menos a populacao tem habitacao, o que deveria servir de exemplo aos nossos políticos. Como referido no dia anterior, esse grupo Ovelhas Negras(Ovejas Negras) nos atendeu legal, sendo que um dos companheiros foi na sua casa buscar formulários necessários para o ingresso e reingresso nas aduanas Chile/Peru, evitando assim termos que nos deslocar até a rodoviária de Arica(único lugar que se vende, e devemos comprar aqui em Arica porque nao tem no Peru), e nos deu de presente um bloco. Muito legal. Trocado o óleo e calibrado os pneus, so falta, novamente, arrumar as malas para amanha. Peru à vista! O centro de Arica é um pouco complicado, feio, e estou agora na internet porque faltou água no hotel, espero que retorne daqui um pouco. Para nao dizer que nao tem algum atrativo, há um morro quase entrando no mar, que certamente proporciona um boa vista(nao subi lá), e próximo a ele, daí sim, muito bonita e histórica, uma igreja e sua praca frontal. Devemos amanha dormir em Moquegua-PE, para depois, penso eu, pegar uma estrada muito bonita, cheia de curvas e chegando a quase 5.000 metros de altitude. Boa noite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário