Frio. Muito frio, neve, chuva, gelo. O dia de hoje(09/01) foi para colocar em prova a viagem. Mas passei. Apesar dessas adversidades, a paisagem compensa. Saímos cedo, às 08:30 de Moquegua, e chegamos de noite em Puno, às 07:00 horas. E foram apenas 460 km para todo esse tempo. Entao vamos lá. Ao contrário de quando entramos no Perú indo até Moquegua, que era sem graca nenhuma(exceto quase chegando conforme já relatei), agora se viaja por uma estrada totalmente sinuosa, onde nao há mais do que 2 a 3 km em linha reta, e isso em poucas oportunidades. É cheia de curvas, no início muito fechadas, e com a natureza mostrando sua beleza. Aos poucos esse trajeto vai se modificando, aparecendo algum verde e mostrando a cultura de vida dos pequenos povoados por que se passa. Nos primeiros 30 km se sai de uma altitude de 1.300 metros ao nível do mar, e chega aos 3.600 metros. Depois disso continua subindo, lentamente, atingindo o máximo de 4.670 metros ao nível do mar. A partir dos 3.600 metros começou uma neblina forte, alternando com chuviscos, e a temperatura caiu vertiginosamente. Esse trecho de ´prova de fogo´(na verdade de frio) foi por mais ou menos 70 km, onde se via em alguns locais gelo próximo ao asfalto.
Mas o ponto crítico foi quando a temperatura baixou para menos de 5ºC negativos, neblina forte, roupa de chuva molhada, em que aos poucos os dedos das duas maos foram congelando, um a um, até que eu não sentia mais nada, inclusive começando a atingir o punho da mão direita. Neste momento, por sorte, iniciamos a descida e, por um passe de mágica, desapareceu a neblina e chuva (até então estávamos sempre na média de 4.400 metros de altitude), e surgiu uma casa abandonada, com um bom espaco para estacionar. Era a casa salvadora (porque não aguentava mais as maos congeladas), oportunidade em que paramos e, de imediato, tirei a luva molhada e coloquei as mãos no cano de descarga para descongelar, e a luva em cima do cano pra secar. Deu tudo certo, tendo sido uma experiência a mais nessa aventura de motociclista. Ali mesmo fizemos um lanche básico, onde me foi muito útil as barras de cereal que levei para esse tipo de emergência. Seguindo viagem, e aproveitando a momentânea establidade do tempo, e a paisagem cada vez mais bonita, vendo muitas casas típicas, alpacas e lhamas, animais que predominam na regiao, até chegarmos num outro ponto máximo da viagem: neve. Na verdade pegamos poucos segundos de neve em cima da moto, mas nas laterais da estrada tinham muitos blocos de neve, como também nas casas e pastos. Obviamente paramos para fotografar. Depois dessa euforia contagiante, apesar do intenso frio, chegamos num pequeno povoado - Mazo Cruz -, porque deveriamos abastecer. Eu e o Ray(este dirigia o veículo) entramos num lugar que dizia ser restaurante (longe disso!) para poder usar o ´baño´, emergencialmente, e logo depois saimos em derrocada, pois a sujeira e falta de higiene era algo fora do normal. Como já diziam outros aventureiros, evitem comer qualquer coisa nesses pequenos povoados. Bem, para abastecer, tivemos que procurar o frentista do posto (aviso aos viajantes: procurem esse frentista, pois ainda é o melhor - ou menos pior - posto de combustível), porque a outra forma é comprar gasolina de particulares, provavelmente batizada. Contudo, o importante é que há abastecimento nesse povoado. Fizemos nosso segundo lanche nesse local, e abaixo de chuva de granizo por poucos minutos. A partir daí foi cruel. A chuva aumentou, e com ela o frio, agora úmido, gelando até a ponta das orelhas. Apenas as paisagens que nos mantinha ligados e sem perceber o efeito das interpéries. Por ocasiões parava a chuva, e mais adiante começava, assim sucessivamente, até chegar em Desaguadero, uma cidade que faz divisa com a Bolivia, com a cidade de mesmo nome. Não vamos para a Bolivia, pois a situação lá não está muito tranquila para os turistas. Em Desaguadero abastecemos novamente, pois depois seria somente quando chegássemos a Puno. Essa cidade –Desaguadero - (como a maioria no Peru) é desordenada, mais parecendo uma terra de ninguém, e piorada, talvez, por causa da chuva. Para pernoitar aí nessa cidade de Desaguadero somente em caso de extrema necessidade, e ainda sem dormir pensando nos veículos...Essa cidade é o ínicio do Lago Titicaca, o que infelizmente parece que não sabem aproveitar o potencial desse lago como turismo sério e seguro. Logo que se passa por Desaguadero, vem um pequeno povoado onde se encontra a policia nacional - a famosa. Nao deu outra: nos pararam, pediram a documentacao, liberaram o carro de Curitiba em que estrava o Ray, a Eliana e a Lilian, mas começaram a complicar comigo e o Mazo. Todos os documentos pedidos foram fornecidos, mas ainda assim mandaram que entrássemos no ´oficio´(escritório deles) sem qualquer explicação. Lá dentro nos dividiram de sala, me mandando para outra sala. As atitutes desses policiais foram ostensivas, ficando 4 ou 5 policiais ao redor da gente, como se fossemos algum marginal. Quando estava na outra sala vi um policial revistando o Mazo, mas logo em seguida, um tanto nervosos, os policiais nos entregaram os documentos e disseram que deviamos sair e ir embora. Isso coincidiu com a chegada de um policial que nos pareceu ser o chefe de todos, pois esse dera a ordem. Após isso, os ´policiais nacionais´se mostraram ´simpáticos´. Aviso aos que vierem para cá: primeiro, digam sempre que está vindo mais amigos em outros veículos quando fizerem a pergunta se estao viajando sozinhos; segundo, peçam primeiro quais sao todos os documentos que precisam, para poder argumentar que somente esses foram pedidos e estao corretos; terceiro, quando perguntarem quanto vale a moto, ou o carro, ou qualquer coisa(até roupa) digam sempre valores inferiores); e quarto, torcam para que venha o chefe deles - se não for corrupto também - para ver o que está acontecendo. Enfim, esse sufoco passou. A partir de Desaguadero a estrada é ruim, muito ruim. Tinha muito buraco e ondulações, que chegou um limite em que nao adiantava mais tentar desviar. Mesmo quando se fazia alguma parada, a alma continuava a chaqualejar... Finalmente chegamos a Puno, uma cidade turística, relativamente grande, com aproximados 150.000 habitantes, localizada às margens do Lago Titicaca, cujos prédios sao tombados como patrimônio cultural, mantendo a tradição das casas e sua originalidade. Nao sei dizer se isso é bonito ou não, mas é o que é. Esse trânsito (acho que serei retórico nesta questão enquanto estiver no Perú) é muito maluco, carros e taxis se atravessando - e buzinando, claro - um nos outros. Para facilitar, contratamos um taxi para encontrar o hotel. Hospedados, fomos jantar, ainda chovendo, num dos tantos restaurantes localizados na ´peatonal´, rua principal do centro onde nao entra veículos(é o nosso calçadão). O hotel é bom (Hotel Totorani, que recomendo), e finalmente um hotel com banho quente, sem falhas. Nao fui para a internet porque estava muito cansado dessa emocionante e bela viagem, mas também estressante. Alem do mais, cedo - 7 horas - vai sair uma excursão para visitar as ilhas.
Hoje (11/01) - agora finalmente estou na internet - o dia foi proveitoso. Partimos para as ilhas Uros e Taquile. As ilhas Uros são impares. É um complexo de várias ilhas flutuantes, formadas pela sobreposicao de juncos, onde habitam uma ou mais familias em cada uma das ilhas. Eles possuem sua cultura própria, com descendências anteriores aos Incas. É incrível ver como vivem, e na forma como sobrevivem. Para se ter uma idéia, essas ilhas sao formadas na base pelas raízes dos juncos(que tem em abundância no Lago Titicaca, a saber o mais alto e maior lago navegável do mundo), e depois vão colocando de forma estratégica os juncos. Formada a ilha, constroem suas tendas(também de juncos, óbvio), tendo um presidente que os comanda. A alimentação desses Uros está no próprio junco, pois seu miolo é comestível, como também de uma parte desse junco eles fazem pão, isso mesmo, pão! Também pescam truta ou peixe-rei. Exploram ainda os juncos para fazerem cama e vendem para a população(e vendem muito), além de artesanato. Apesar de manterem as raízeis dos antepassados à risca, a modernidade chegou nessas ilhas, pois tem energia solar, televisao, som. Depois de visitar essas ilhas dos Uros, partimos para a ilha Taquile, que demora duas horas e meia a navegacao. Lá chegando, saímos para uma caminhada por uma trilha que quase dá a volta na ilha, com duração média de 45 minutos, subindo, lógico. Nos primeiros 10 metros de subida sente-se falta de ar, mas depois, devagar, se consegue subir até os 4.000 metros de altitude(o Lago Titicaca fica a 3.800 metros). A paisagem proporcionada pela ilha é fantástica, onde existe nessa ilha uma comunidade com 1.700 habitantes, retirando do solo sua sobrevivência - e do turismo também -. Há vacas leiteiras, ovelhas, milho, batata, e outras culturas agricolas que nao sei identificar, tudo plantado em camadas feitas na terra (como aquelas fotos que se vê de Machu Picchu ). Ao final da trilha, há o centro da comunidade, muito simpático por sinal. A nossa turma de excursão foi levada para um almoço numa casa de família, de onde pudemos desfrutar, além da vista magnífica para o lago e no horizonte a Bolívia, um bom almoço com peixe-rei, e uma aula de dança e constumes e tradições desse povo, tudo feito pela família. Muito legal.
Retornando à cidade de Puno, fui jantar na rua central ´peatonal´, num restaurante que recomendo(Restaurant Pizzeria Giorgio, cozinha internacional, e barato, considerando os outros países). Por exemplo: US 9,00 por uma sopa de entrada, uma truta com legumes e pure, e torta de maçã, sendo que os três pratos do menu são escolhidos entre muitos, pelo mesmo preço, e refrigerante). Come-se bem e barato no Peru, exceto nesses pequenos lugarejos que é um tanto perigoso comer. A gasolina no Peru é normalmente encontrada em 84 octanas, mas não tivemos nenhum problema com ela. Até agora nao há dificuldade de abastecimentos, mas deve-se ter a cautela sempre que abastecer. E onde. Amanhã iremos para Cuzco.
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